Rússia x Ucrânia – Temos que falar sobre comércio exterior?
Data: 25/02/2022
Autor: Renan Rossi Diez
O dia amanheceu diferente. Para muitos de nós, um sentimento de ansiedade e tristeza, haja vista uma guerra iminente de proporções ainda incertas, mas assustadoras. Para outros de nós, no centro dos acontecimentos, a realidade do conflito armado. Sangue, choro e tensão. As redes sociais podem até nos aproximar da imagem da guerra, mas a diferença da tela e da rua é a diferença de quem vive e de quem luta para sobreviver.
É difícil escrever e discorrer sobre as consequências dessa guerra para o comércio exterior. O mundo mal saiu de uma pandemia, de uma crise econômica e sanitária que há muito tempo não se vivia. A maioria de nós deveria estar se amando, não se armando. Uma guerra bate na porta, e é desanimador ter que falar sobre comércio exterior, mas é preciso.
A cadeia de suprimentos deve sofrer alterações. Com o início da guerra muitas sanções estão sendo impostas, principalmente, por países europeus. A Ucrânia é conhecida como a “Cesta de Pão” da Europa, já que é responsável por boa parte do fornecimento de trigo. A Rússia por sua vez, fornece para os mercados asiáticos, principalmente China. Ambos os países são exportadores de trigo para o Brasil, principalmente quando há problemas por parte da Argentina. A logística internacional terá que ser readequada. Países precisarão buscar outros fornecedores e a cadeia de suprimentos sofre como um todo.
Neste mesmo sentido, em virtude de a cadeia de suprimentos sofrer com uma dança de posições ainda incerta, a logística fica comprometida, até mesmo porque, o tráfego aéreo da Ucrânia já foi fechado e, ao passo que o problema se intensifica, podemos ter paralisações e mudanças de rotas de voo e de navios em diversas partes do mundo.
Os fretes internacionais que estavam em processo de redução nas tarifas, mesmo que a passos lentos, deve sofrer novo impacto negativo, tendo em vista que a Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo no mundo e, os preços dos barris subiram ainda mais após a ofensiva russa à Ucrânia, atingindo já o valor de USD 105 por barril. Desta forma, por óbvio, o preço do combustível de navios e aviões será maior, o que deve ser repassado e percebido nos valores de fretes internacionais.
Devemos ter um longo caminho de consequências, sabe-se lá por quanto tempo. No comércio exterior sempre atravessamos momentos ruins. Períodos de instabilidade, crises econômicas, sanitárias, políticas, problemas relacionados a oferta e demanda, burocracias e uma lista infinita das quais podemos citar, mas nada se compara a uma guerra.
A guerra é a contramão do bom senso e a utopia da paz parece cada vez mais real. Está cada vez mais difícil ter serenidade no caos.
Renan Rossi Diez é Diretor na Intervip Comércio Exterior; Embaixador do FIE – Fórum de Internacionalização de Empresas e Conselheiro Estratégico no ComexdoBrasil.com.
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