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Alargador de orelha e espiral de sentimentos aleatórios em situações de violência.

Data: 10/09/2021
Autor: Martina Catini Trombeta

O desafio na compreensão da submissão das mulheres em situação de violência abarca tanto a compreensão delas das razões que a levam estar na relação, quanto das pessoas que convivem com aquela vítima.

Na desmistificação e visualização do problema, os conceitos, que denomino em violência como “alargador de orelha” e “espiral de sentimentos aleatórios” se mostram essenciais, e são eles que vou abordar.

Imagine um alargador de orelha, em que o orifício nunca regride, e só se alarga, ou seja, não há possibilidade de inserir um objetivo menor, nunca, apenas retirá-lo, deixando o espaço alargado.

Uma vez mentalizada a imagem, passemos a analogia com a situação de violência. É importante que tenhamos a clareza que a violência é sempre progressiva, e nunca vai diminuir. Impedir que ela continue apenas tem como solução retirar o agressor.

A esperança de que um dia vai cessar aquele cenário, faz com que as mulheres expostas a essa situação continuem na relação. Junto com a permanência na relação, e o que justifica o fato, é algo que denomino espiral de sentimentos aleatórios provocado pelo agressor, ao longo do tempo.

Esse tempo inicia-se com investidas estratégicas que submetem tanto a rede de apoio (ou seja, família e amigos próximos) a uma falsa realidade de que a mulher tem “culpa” e que ela poderia agir diferente para não sofrer as agressões progressivas.

Ao mesmo tempo que essa ideia é inserida a rede de apoio, as agressões aumentam no ambiente doméstico e familiar. E essa mulher vítima de violência sente uma culpa profunda em não conseguir estancar a violência, a sensação de impotência a domina, em conjunto com a destruição e afastamento da rede de apoio, que por diversas razões construídas pelo agressor, acreditam que, de fato, a vítima poderia ser diferente.

Os sentimentos da vítima são diversos, e é o que denomino do tal espiral, tais sentimentos são aleatórios e não identificados, o tempo todo e sempre, e a impotência em persuadir e retratar o que se passa, faz com que a agressão progressivamente aumente.

A mistura de sentimentos e comportamentos inúteis em estancar a violência, levam a um ciclo com resultados cada vez piores, e algumas vezes a morte efetiva da vítima, quando a abordagem profissional não é eficaz e qualificada.

O conhecimento dessa dinâmica é essencial para a compreensão da rede de apoio dessa vítima, e principalmente da mulher em situação de violência, que tem que se enxergar em meta-posição, para aí sim, compreender que não há um comportamento “assertivo” para evitar a agressão, sendo a única solução, sair do relacionamento.

A culpa, o medo e a falsa esperança de que algo poderia ser diferente as mantém presas na violência, em conjunto com muitos outros fatores, que só são identificados dentro de um processo de abordagem especializada, capaz de resgatar razões profundas, compreendê-las, e aí sim, libertar com eficiência a vítima desse ciclo sem fim.

Sair da redoma é um processo incisivo, tanto para a rede de apoio quanto para a vítima em si, e, de verdade, “não tem como desver”. Vamos assumir as nossas responsabilidades, cada qual com o poder de influência e eficiência, tratar do tema com essa abordagem pode salvar muitas vidas.