Se você sofre com o isolamento social, imagina para quem mora com o agressor.
Data: 26/03/2021
Autor: Matheus Oliveira de Souza
O mês de março é lembrado como o Mês da Mulher, entretanto, a luta pela igualdade de gênero e a erradicação da violência deve perdurar o ano todo.
Segundo um relatório apresentado em 2020 pela ONU Mulheres, em média, uma em cada cinco mulheres sofre ou já sofreu algum tipo de violência de gênero nos 12 meses que se passaram, seja violência física ou sexual.
No Brasil a situação da violência contra as mulheres não é menor, muito pelo contrário, os índices sobem cada dia mais. E não só em relação à violência que o Brasil é um dos piores países da América Latina para ser mulher.
Vamos lá, quando olha-se para política, o país lidera o ranking de disparidade em cargos políticos, atrás, apenas, de Chile e Panamá.
Durante o último ano, com as grandes mazelas que a pandemia mundial de Covid-19 vem, de forma crescente, deixando sua marca pelo mundo, em conjunto à imperativa necessidade de isolamento social, e o consequente e literal “ficar em casa”, está sendo um pesadelo um pouquinho pior para milhares de mulheres, que são obrigadas a passar mais tempo com seus agressores, aumentando os índices de violência doméstica.
Quando analisamos sob a ótica global, a problemática não se restringe ao nosso país. Durante a pandemia, o estagiário do nosso escritório (Catini Trombeta), Matheus Souza esteve na cidade de La Paz, Bolívia, e pode vivenciar em uma experiência acadêmica tal cenário durante os meses de Dezembro/2020 e Janeiro /2021.
Matheus trabalhou como voluntário da ONG Defiendete, que atua na defesa judicial de mulheres em situação de violência na região, e dividirá conosco relatos de extrema importância e riqueza:
“A cidade de La Paz conta com altíssimos índices de violência contra a mulher, e os tipos de violência variam, desde violência física e sexual à violência psicológica e patrimonial. A organização Defiendete, em que fui atuar, foi fundada pela Dra. Lorena Borda ao observar que grande parte das vítimas da violência contra a mulher eram pessoas de baixa renda que consequentemente, não buscavam reaver seus direitos. Vendo essa demanda, a advogada decidiu criar a ONG, atuando gratuitamente em defesa das mulheres em situação de violência. Assim o fez e há anos a organização atende desde o acolhimento após as agressões até o final do trânsito em julgado, acompanhando todo o processo judicial. Como voluntário, atuei ao lado da Dra. Lorena e tive a oportunidade de fazer atendimentos à mulheres que sofreram violência, e não apenas de seus cônjuges, mas muitas vezes de vizinhos ou familiares. Além de um grande esforço pessoal da advogada , as mulheres bolivianas passaram a contar em 2013 com um grande reforço legal, a Lei Integral para Garantir uma Vida Livre de Violência, reforçando assim a atuação da ONG no processo legal. Ademais dos atendimentos, também pude acompanhar o devido processo legal de algumas assessoradas pela instituição, podendo ver de perto semelhanças e diferenças do Brasil e da Bolívia. Com essa experiência, vi na prática como, infelizmente, a violência contra a mulher não é exclusividade do Brasil, e sim, um mal a ser combatido com veemência no mundo todo.”
Nesta semana, no dia 31 de março, encerra-se o mês dedicado às mulheres, porém, a luta contra a violência de gênero não pode cessar em nenhum momento do ano, é uma batalha contínua em busca de uma vida mais justa e digna para todos.
fontes:
https://www.onumulheres.org.br/noticias/violencia-contra-as-mulheres-e-meninas-e-pandemia-invisivel-afirma-diretora-executiva-da-onu-mulheres/
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/10/10/dia-contra-a-violencia-a-mulher-10-dados-explicam-por-que-falar-sobre-isso.htm