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Setembro Amarelo.

O suicídio e o poder da empatia: saber, agir e prevenir.

Data: 18/09/2020
Autor: Martina Catini Trombeta

O suicídio pode afetar indivíduos de diferentes classes sociais, idades, orientações sexuais, gênero. É um ato complexo com uma conjugação de fatores, e muitas vezes incompreensíveis ou com sinais imperceptíveis às pessoas que convivem com a pessoa que está com ideias de cometer suicídio.

Na maioria das vezes, é um assunto velado e agravado pela falta de empatia pela vida do outro. Quando analisamos as pessoas sem nos aproximarmos da realidade delas há grandes chances de não detectarmos os pedidos velados de ajuda ou indícios de que algo não vai bem.

Em verdade, indivíduos que passam por sofrimentos podem emitir sinais que servem de alerta aos familiares e amigos próximos, principalmente se muitos desses sinais se manifestam ao mesmo tempo. Mas não há uma fórmula ou um protocolo certo, e observação, sensibilidade e empatia devem ser utilizados para que consigamos identificar quem está precisando de ajuda.

Devemos ficar alertas quando nos depararmos com os seguintes sinais:

  • Problemas de comportamento, conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas que surgem ou se agravam.
  • Preocupação com a própria morte, falta de esperança com a vida, ausência de perspectiva de futuro.
  • Expressão de ideias ou de intenções suicidas.
  • Isolamento

A visão negativa da própria vida, ausência de projeção de futuro, excesso de culpa associados a falas constantes sobre morte e suicídio deve ser levado em consideração.

Esse comportamento pode se exteriorizar verbalmente, através de desenhos ou escritas.

O poder da empatia na detecção do comportamento suicida

Para a psicologia e neurociências contemporâneas a empatia é uma das manifestações de inteligência emocional. Estão presentes na empatia os componentes afetivo, cognitivo e reguladores de emoções

Empatia cognitiva se relacionada com a capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas. O componente cognitivo refere-se à capacidade de deliberar sobre os estados mentais de outras pessoas.

Já a empatia afetiva, é a habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia. O componente afetivo baseia-se na partilha e na compreensão de estados emocionais de outros.

Pesquisas indicam que a empatia tem uma resposta humana universal fisiológica, como causa de comportamento altruísta, uma vez que predispõe o indivíduo a tomar atitudes em prol do outro, genuinamente.

Quando desenvolvemos a nossa empatia nos relacionamentos, as chances de identificarmos tendências suicidas aumentam.

Tomemos como exemplo as seguintes frases:

  • “Vou desaparecer.”
  • “Vou deixar vocês em paz.”
  • “Eu queria poder dormir e nunca mais acordar.”
  • “É inútil tentar fazer algo para mudar, eu não tenho jeito.”
  • “Só indo embora dessa vida.”
  • “Eu sou um problema para todos, eu nunca vou prestar pra nada, o mundo será melhor o dia que eu for embora.”

Pela obviedade dessas frases ou pela forma ilustrativa que algumas pessoas usam, não costumamos dar a devida atenção quando ouvimos.

Algumas pessoas lançam tais frases sem ter a real intenção de tirar a própria vida, mas muitas outras a falam, conjugados com comportamentos precedentes, que nos permitem identificar um comportamento suicida.

Outro sinal indicativo das pessoas com pensamentos suicidas é que elas se isolam, não atendem telefonemas, não saem de casa ou se trancam no quarto, reduzindo ou cancelando todas as atividades sociais.

O que fazer quando estamos com alguém que fala em suicídio?

Primeira coisa, é escutar e não dizer nada.

Tendemos imediatamente tentar ajudar, oferecemos conselhos, partilhamos as nossas próprias experiências e tentamos encontrar soluções.

Na verdade, pessoas que pensam em se suicidar não quer conselhos ou soluções, apenas querem alguém com quem possam desabafar e com quem se sintam à vontade.

Parece singelo, mas escutar não é fácil. É nesse momento que a empatia entra em cena, precisamos compreender as coisas com a perspectiva do outro e não com a nossa.

Portanto, devemos nos esforçar e não dizer nada, não comentar nem contar uma história e muito menos aconselhar

O que as pessoas que estão pensando em tirar a própria vida querem?

Alguém que escute, que não julgue, um interlocutor para desabafar sem emitir opinião, e que apenas dedique atenção.

Querem respeito, confiança, singeleza e tranquilidade. Alguém que não desmereça seu sofrimento e que acredite no tamanho da sua dor.

As pessoas com ideias suicidas têm muito medo de solidão e rejeição, o julgamento e os sermões de discordância podem agravar o problema. Assim, como demonstrações de pena ou fugir do assunto apenas igualmente agravam a situação.

Não tenhamos medo de abordar o tema, sempre seguindo as orientações especificas para a transmissão das informações.

Quanto mais o assunto for velado, mais difícil para pessoas em risco de suicídio procurar e encontrar ajuda. O respeito e a empatia são ferramentas poderosas, ainda mais considerando que as razões pelas quais as pessoas se suicidam são sempre muito complexas.

Procure ajuda.

Onde buscar ajuda?

Temos o Centro de Valorização da Vida – CVV (188), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

Em casos de emergência o SAMU (192) deve ser contactado.

Serviços e saúde e hospitais também podem ser contactados: UPA, Pronto Socorro, Hospitais. CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).

Referências:

Be Friends. Disponível em: https://www.befrienders.org/portugese-helpafriend. Consultado em 16/09/2020.

Centro de Valorização da Vida. Disponível em https://www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/09/folheto-jornalistas.pdf. Consultado em: 16/09/2020.

Eres, R., & Molenberghs, P. (2013). The influence of group membership on the neural correlates involved in empathy. Frontiers in Human Neuroscience.

Setembro Amarelo. Disponível em: https://www.setembroamarelo.org.br/. Consultado em: 16/09/2020.