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A destruição da rede de apoio, como o isolamento está potencializado as agressões.

Data: 15/04/2020
Autor: Martina Catini Trombeta

É típico do comportamento do agressor desqualificar todas as pessoas que cercam a pessoa que está em situação de violência.

Comentários pejorativos sobre os pais, irmãos, familiares e todos que efetivamente protegeriam de alguma forma essa pessoa, fazem parte da rotina do agressor.

Os ambientes sociais costumam ser o foco de discórdia, e a culpa é imputada ou a mulher, ou às pessoas próximas, as quais chamamos de rede de apoio.

Em um dado momento, a vítima passa realmente a acreditar que todas aquelas pessoas são péssimas, e que apenas o seu agressor a protege dos males do mundo.

O vínculo da vítima com essas pessoas que a protegem vai sendo sucessivamente rompido, e de repente, ela se vê sozinha, e passa a ter medo de chamar ou comunicar que está em situação de risco.

Essa é a realidade vivenciada normalmente nos ciclos da violência. Aproveitemos o isolamento do momento devido a pandemia e fazemos um alerta pontual em como há o aumento da violência em momentos de crise.

Inclusive a ONU publicou em seu site o seguinte:

“Violência contra as mulheres – A violência de gênero é outro componente de atenção em pandemias, como o COVID-19. “Em um contexto de emergência, aumentam os riscos de violência contra as mulheres e meninas, especialmente a violência doméstica, aumentam devido ao crescimento das tensões em casa e também o isolamento das mulheres. As sobreviventes da violência podem enfrentar obstáculos adicionais para fugir de situações violências ou acessar ordens de proteção que salvam vidas e/ou serviços essenciais devido a fatores como restrições ao movimento de quarentena”, considera a ONU Mulheres para Américas e Caribe.”

Longe de ser a causa da violência, usamos o isolamento atual e momento para esclarecer que as mulheres em situação de violência, para minimizar os impactos em seu dia a dia, valem-se de álibis “permitidos por seu agressor”.

Vão em supermercados, shoppings, academias, salão de beleza, grupo de amigas…

A própria ONU traz que o fechamento de serviços de alimentação nas escolas e comunidades, escassez de alimentos e restrições ao movimento de pessoas é um fator causou um aumento no estigma, xenofobia e discriminação, como observado na Ásia em que foram verificadas “expressões relacionadas à raça, gênero e situação de imigração, que levam a maior desigualdade, distanciam as pessoas dos serviços de que precisam e exacerbam estereótipos”.

Reitero que me valho apenas ilustrativamente do cenário atual para expor o modo de operação do agressor, que já é recorrente, e se agrava com o confinamento.

Não negligenciemos, nunca, a tais comportamentos. Importante que fiquemos atentas se somos vítimas desse isolamento, com vestes de falsa proteção. Ou se nossos especiais não passam por situações assim.

O aumento das estáticas de violência no Brasil aumentou exponencialmente desde o início da quarentena devido ao confinamento, conjugado com todos os problemas de convivência que se potencializam com o confinamento junto dos agressores.

A OAB já encaminhou ao CNJ, ao ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, ofícios contendo algumas sugestões e recomendações de medidas a serem adotadas pelos Estados de proteção das mulheres durante o isolamento social em função da pandemia, tais como:

  • Prorrogação automática das medidas protetivas de urgência existentes;
  • Deferimento de medidas protetivas de urgência com prazo indeterminado;
  • Execução de campanhas com cartazes informativos em farmácias, bancos, supermercados e redes sociais;
  • Monitoramento dos casos, com a divulgação periódica dos dados de ocorrências e medidas concedidas.
  • Realização de campanha nacional com alerta sobre o atual aumento da violência doméstica e familiar no Brasil e divulgação de canais para realizar denúncia e procurar o auxílio;
  • Recomendação para que os Estados implementem e/ou fortaleçam campanhas desta natureza com cartazes informativos em farmácias, bancos, supermercados e redes sociais;
  • Recomendação às Polícias Civis para a Implantação das delegacias digitais, além de outras formas de facilitação dos mecanismos de denúncia pelos órgãos institucionais, a exemplo de WhatsApp e aplicativos, bem como a implantação de delegacias móveis para registro de ocorrências e pedidos de medidas protetivas.

Notas alertando para o cenário de crescente de violência doméstica e familiar que vitima as mulheres no confinamento têm sido divulgadas, e com o isolamento, a nossa atenção deve ser redobrada.

Isolamento não pode ser esquecimento.