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Preconceito contra os trans.

Transexuais: definição de papeis sociais como gatilho ao desrespeito.

Data: 07/08/2020
Autor: Martina Catini Trombeta

A condição biológica de uma pessoa ter nascido com genitais masculinos ou femininos não significa que ela se reconhecerá como tal e que se comportará de acordo com a forma que a sociedade espera dela.

Vive-se em uma sociedade em que foram construídas regras de comportamento para mulheres e homens, e que tudo o que foge desse padrão é criticado por uma imposição de papéis.

Como se existissem coisas de menino e de menina, cores de homem ou de mulher, funções especificas pela condição de gênero que ligam a construção da identidade de uma pessoa como mulher ou homem.

Algumas pessoas optam por realizar a cirurgia de mudança de sexo outras, não. O fato é que a não aceitação do gênero com a mudança do comportamento social traz para essas pessoas muitos desafios.

Para que se saiba, a identidade de gênero é pesquisada pelas ciências sociais e biológicas em diferentes áreas da medicina desde a década de 50. Em 1960 o professor de psiquiatria da Universidade da California Robert Stoller definiu a diferença entre sexo e gênero, sendo que sexse refere ao aspecto fisiológico; o gênero está ligado a aspectos culturais, sociais e históricos.

As definições de Stoller basearam-se em estudo com crianças que têm características biológicas de ambos os sexos (denominadas intersexuais). Em seus estudos, constatou que independente do sexo das crianças, elas se comportavam de acordo com o gênero com o qual se identificavam, portanto é mais fácil mudar a genitália de alguém do que sua mente.

A denominação transexual foi criada pelo sexólogo alemão Harry Benjamin em 1966, e foi ele quem instituiu os protocolos pioneiros para diagnóstico e atendimento de pessoas que não aceitam o próprio sexo. De acordo com sua perspectiva, a transexualidade seria uma doença, e o tratamento hormonal e cirurgia são a cura.

Entendeu-se por muito tempo que a transexualidade era uma doença, e que obteria a cura por meio de tratamentos psicológicos, e o preconceito ao transexual poderia transparecia até a 10ª Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas de Saúde (CID-10), que ainda considerava que a identidade de gênero de um indivíduo se tratava de uma doença mental.

Considerando a igualdade de gênero como premissa aos Direitos Humanos, são questionáveis os motivos que levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a diagnosticar a transexualidade como doença.

O sentimento de ser de outro sexo pode ser encontrado desde a mitologia greco-romana, em fontes literárias e antropológicas. Nestes estudos nos deparamos com muitos personagens que utilizavam trajes ou comportavam-se de maneira diferente de seu gênero, o que comprova que a transexualidade é inerente a nossa evolução social.

É interessante colocarmos em pauta essa questão social que é secularmente flagelada por vivermos em uma época que a polarização social e política está extremamente em pauta, e há um intenso debate sobre questões que versam sobre de etnias, religião, sexualidade, feminismo, machismo, etc.

Sob a ótica dos Direitos Humanos o que se pretende é que todos os indivíduos sejam vistos de forma igual pela sociedade, independentemente de suas características. Vivemos em um mundo com grande diversidade cultural que conflita com o dever de respeito ao outro.

A construção do respeito ao ser humano, não podendo ser definido apenas pelas características biológicas e de gênero. Falar em gênero exige uma perspectiva humanitária, para contrapor a noção de sexo biológico.

O que se busca é o equilíbrio por meio da inserção da igualdade da pessoa como ser humano. Não se trata de negar por completo a biologia dos corpos, mas entendermos que existe uma construção social e histórica sobre as características biológicas e que categorizar homens e mulheres é decorrente de uma construção da realidade social e não meramente de uma diferenciação anatômica que não pode ser utilizado como gatilho de desrespeito.

Referências

ALVARENGA, Juliana Mendonça. Transexualidade e seus reflexos no Direito e Registro Civil, 1ª Ed. Belo Horizonte: D’ Plácido, 2016.

CARRARA, Sérgio. Políticas e direitos sexuais no Brasil contemporâneo. Revista Bagoas: revista de estudos gays. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, n. 5, Natal: UFRN, 2010.

Diversidade Sexual na Escola. Uma metodologia de trabalho com adolescentes e jovens. http://www.mpf.mp.br/regiao3/atos-e-publicacoes/publicacoes/diversidade_sexual.1968.pdf . Acesso em 05/08/2020.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. São Paulo: Graal, 1986. v. 1.

PENNA, J. B. et al. O médico, o transexual e a responsabilidade civil na cirurgia de redesignação do sexo. Edição do autor Alexandre Alliprandino Medeiros. São Paulo, 2014.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). WHO: Revision of ICD-11 (gender incongruence/transgender) – questions and answers (Q&A). 2018. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=kyCgz0z05Ik. Acesso em 05/08/2020